Cuidar de quem cuida
- Paula Torres
- 16 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de out. de 2024

Há quem pense que o ato de cuidar é natural, instintivo até. Como se, ao assumir o papel de cuidador, uma pessoa se tornasse automaticamente imune ao cansaço, à exaustão emocional, à sobrecarga da alma. Mas a verdade, cruel e silenciosa, é que quem cuida também precisa de cuidado.
Quem já cuidou de alguém sabe: é um trabalho danado e o relógio é impiedoso. Começa lá na percepção das necessidades e daí em diante, as horas são contadas por refeições preparadas, banhos dados, todas as demandas atendidas. Os dias são longos, e as noites, muitas vezes, mais longas ainda, porque a preocupação não adormece, os pensamentos mergulham no mar de dúvidas, questionamentos, culpa. O corpo desgasta-se, e a mente? Essa tenta acompanhar, mas nem sempre consegue. A paciência, às vezes infinita, vai se desgastando com o passar do tempo, até que um dia se vê alguém no espelho que não reconhece. O sorriso ficou mais raro, os olhos pesam. É aí que a pergunta surge: quem cuida de quem cuida? Cuidado não é uma pantufa quentinha e macia em nos pés, como tentam nos convencer. Cuidado é colocar esse conforto nos pés de outra pessoa. Um movimento que exige tempo e dedicação. A sociedade tende a olhar quem recebe o cuidado — e com razão, afinal, essas pessoas dependentes, crianças ou adultos, precisam de apoio, atenção, presença. Mas raramente olhamos para o cuidador. Como se essa missão fosse silenciosa, invisível. Como se o cuidador tivesse superpoderes. Só que não tem. Quem cuida de quem cuida? Uma pausa para tomar um ar, alguém para escutar, acolher, pode ser um bálsamo. Cuidar de um cuidador é perceber que ele também precisa de colo, mesmo que tenha se acostumado a ser o alicerce dos outros. Há algo de heróico em cuidar, mas também há algo de profundamente humano em reconhecer que os heróis também se cansam. E que eles precisam, de vez em quando, de tirar a capa e deitar-se sem a culpa de precisar pausar e cuidar de si. Porque o cuidador não falha quando descansa. Falha quando se esquece de si, quando ignora os próprios limites. Receber atenção, acolhimento e orientação, são os gestos pequenos que fazem a diferença. A escuta atenta, sem julgamento, a tomada de decisão compartilhada. Uma rede invisível de afeto que segura quem está a segurar o mundo de outra pessoa. Cuidar de quem cuida é, no fundo, cuidar da continuidade do cuidado. Porque, sem isso, sem essa rede de apoio, quem cuida acaba por quebrar. E quem vai cuidar então? Entre em contato para saber mais, tirar dúvidas e receber orientações de uma terapeuta ocupacional.